segunda-feira, 23 de setembro de 2013

“RELIGIÕES”: A PROCURA POR DEUS?

“Quem não é capaz de ver a Deus no outro não precisa mais procurá-lo...” (Gandhi)

Quando as religiões já não podem mais saciar a fome e a sede espiritual humana, devido a sua falta de credibilidade, quando o homem já não encontra mais razões para crer nas instituições, ditas religiosas, mas que na verdade nada fazem além de alimentar seus próprios interesses, resta ao homem de bom senso não desanimar, mas cultivar aquilo que por sua própria natureza lhe é próprio: o bem.

As religiões, segundo o homem moderno, estão destinadas ao fracasso. Muitas delas já não respondem aos anseios humanos. Para que servem elas então? Dizem que, para religar o homem a Deus, mas se a cada dia surge uma diferente por que cada vez mais percebemos que o mundo, em si, tem mais do que nunca, desejado conhecer a Deus e experimentá-lo? Parece que a religião não tem exercido muito bem o seu papel. Isso porque não se consegue mais esconder que a maioria delas, ao invés de cuidar do homem, parece mais desejar manipulá-lo do que encaminhá-lo para o encontro com o divino. Alguns dizem que até mesmo elas já não sabem mais que caminho percorrer até Deus.

Negar que o homem sempre buscou meios para se relacionar com Deus, seria negar a história, mas questionar se o homem precisa mesmo de uma religião para se comunicar com o divino já é algo que muita gente vem fazendo. Muitos já se perguntam: O que uma religião acrescenta em minha vida? Será mesmo que eu devo pertencer a um grupo religioso para poder sentir a Deus e fazer o bem? Muitos homens já têm desistido disso. Fazer o bem, amar, construir um mundo mais digno já não está atrelado a uma pertença institucional. As religiões ainda são as instituições de maior confiança, segundo as estatísticas, mas até quando isso ainda será verdade. Na prática, a falta de compromisso humano, a carência de amor e misericórdia, hoje em dia, vem sendo a causa para, aos poucos, as instituições religiosas serem colocadas em segundo ou terceiro plano na vida do homem e da mulher moderna. Estão eles errados? Não.

O que salva não são os rótulos. Mas a caridade, ou seja, o amor. Esse pensamento não é relativista, apenas Deus não pode ser manipulado, nem tão pouco deixar-se manipular. “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8,32). A verdade é uma realidade abstrata, porém real. O que é a verdade? A verdade é Cristo: “Eu sou o caminho a verdade e a vida” (Jo 14,6). A reflexão é cristã, porém, nem por isso aquele que não é cristão está longe de também participar da verdade. Aquele que pratica a verdade e a justiça, mesmo sem nunca ter conhecido a Cristo, colabora com a obra da salvação, com o Reino de Deus que é graça. Chega de brincar de ser Deus, de colocar palavras em sua boca, de determinar quem tem direito a salvação ou não. O homem está longe de saber os desígnios de Deus (Sb 9,14). Pode até conhecê-Lo por meio da Revelação bíblica, mas nunca achar que Ele não pode mais pensar, nem agir de maneira inusitada ou diferente. Muitos acham que conhecem a Deus, que não podem mais ser surpreendidos por Ele. Será mesmo? Será que não temos mais nada para saber sobre Deus? Será que as religiões já o esgotaram por inteiro?

Não é novidade ouvir que o homem busca respostas para sua existência, para sua constituição. Também não é mais novidade que Ele busca compreender a Deus, busca encontrá-Lo. Muitos pensam encontrar a Deus somente lá no céu. E onde fica este céu mesmo? E esquecem que este céu, numa realidade escatológica, já deve ser vivido aqui e agora. Para muitos Deus é uma realidade espiritual, imaterial, não palpável. Mas onde ficam as palavras de Jesus que dizem: “Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes” (Mt 25,40). Pois é, a compreensão de Deus vai muito mais além do que aquela que têm as religiões. Se existe alguma que pratica o bem e a justiça sem olhar raça, credo, costume ou cultura, essa aproxima-se de Deus e, verdadeiramente, o encontra seja Ele compreendido por Javé, Allah, Zambi, Braman, Oxalá etc. “Deus ‘quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade’ (1 Tim 2,4): quer a salvação de todos através do conhecimento da verdade. A salvação encontra-se na verdade. Os que obedecem à moção do Espírito de verdade já se encontram no caminho da salvação” (Dominus Iesus n°22).

É mentiroso aquele que procura a Deus ou diz querer conhecê-Lo e nada faz pelos pobres. É utópica qualquer religião que diz amar a Deus se consegue congregar-se e ainda assim ser indiferente ao sofrimento de milhares de crianças, homens e mulheres que sentem fome e que há dias não tem como enganar a sua barriga. Nossa busca incessante por Deus, pelo bem, pelo amor, pela paz, obrigatoriamente, deve passar pela vida de todos aqueles que mais necessitam de nossa ajuda ou do contrário a nossa fé será estéreo e não servirá nem para distrair doentes mentais no mais alto grau de insanidade. Cristo sempre procurou: fazer o bem sem olhar a quem ele ajudava, fosse judeu, grego ou até mesmo samaritano. Procurar ajudar apenas aqueles que amamos, ou que estão ao nosso lado é fácil, difícil mesmo será ajudar aos que nem sequer conhecemos, mas que sabemos ser um filho de Deus, alguém semelhante a nós e de igual natureza, nem pior, nem melhor, mas alguém. 

Por Ábdon Santana/ Estudante de Teologia pela UNICAP
Colunista do Jornal PE da Gente/Janelas da Fé

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