domingo, 14 de setembro de 2014

Na Várzea, sonhos se transformam em arte


Rosevaldo Brito e José Januário são moradores do bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife. Estão a poucos quilômetros um do outro, mas não se conhecem. Os “vizinhos” também têm em comum a habilidade com as mãos e a criatividade, além de quase não usarem seus nomes de batismo. O primeiro é conhecido por Índio Batera, 54 anos, e cria miniaturas de bateria. O outro, apelidado de Esquerdinha, 70, usa o conhecimento em funilaria para reproduzir personagens gigantes em chapa galvanizada.

Um soldado escocês de 1,90m dá as boas vindas a quem chega na rua Major Rubens Vaz, em frente ao nº 300, onde fica a oficina de Esquerdinha. É a quinta vez que o senhor de fala apressada, natural de Pesqueira, realiza o feito, que em breve será motando no Espaço Ciência, em Olinda. As produções inusitadas desse ex-jogador de futebol, que foi lateral esquerdo de times como o 7 de setembro (Garanhuns) nasceram quando ele ainda vivia no Agreste.

“Comecei a trabalhar aos nove anos e com 13 já tinha minha própria oficina de funilaria”, recorda. A desenvoltura rendeu trabalhos importantes como as réplicas em chapa dos 12 apóstolos de Cristo, que produziu para o Centro de Instrução Bíblica, em Poção. A partir daí, Esquerdinha fez do ofício, arte.



Também na infância Índio Batera iniciou uma relação quase sagrada com o instrumento que lhe serve de sobrenome. Em dias de comícios na Praça da Várzea, onde chegou em 1963 depois que saiu de São Bernardo dos Campos (SP), se posicionava atrás dos palcos para fitar os bateristas das atrações musicais. “Eu ia para casa com aqueles gestos na cabeça e quando ouvia uma música imitava tudo.    

Algum tempo depois, descobriu o nome do instrumento que admirava e entendeu o que queria fazer. As limitações financeiras, no entanto, o impediram de investir no sonho. “Eu jurei para minha mãe que um dia teria uma bateria, nem que fosse de brinquedo”.

Meio ambiente

Aos 18 anos, Índio iniciou a manufatura de miniaturas das baterias que hoje preenchem um pequeno cômodo nos fundos de casa. As peças, montadas com materiais descartados, têm um compromisso com o meio ambiente. “A natureza não aguenta mais tanto desperdício”.

Na Várzea, Índio Batera e Esquerdinha são figuras admiradas. A paixão só não é  maior que a necessidade de sobrevivência. Índio, que é diabético e tem três filhos, trabalhou a vida toda como vigia. Esquerdinha é pai de 10 filhos e também faz grades e portões.


Fonte: pernambuco.com/Fotos: Ivan Melo

Nenhum comentário:

Postar um comentário