domingo, 17 de novembro de 2013

Após anos de decadência, Centro do Recife volta a atrair interesse

Os centros urbanos, que sofreram um processo de degradação e esvaziamento nas últimas décadas, voltam a ser alvo de estratégias urbanísticas para resgatar sua principal função de centralidade. Tornar esses espaços atraentes para moradia, por exemplo, é um dos desafios. Para se ter uma ideia, de 2000 a 2010, o bairro de Santo Antônio, que integra o centro expandido do Recife, sofreu um êxodo de 52% dos moradores residentes, enquanto no Bairro do Recife a evasão foi de 34%. Fazer o caminho de volta não será tão simples assim e exigirá mudanças profundas na cidade que temos hoje. Na próxima terça-feira, o projeto Cidades Habitáveis estará aqui no Recife. O encontro será no Centro de Artesanato de Pernambuco das 8h as 13h e contará com a participação da Fundação Avina, Philips, BNDES, Prefeitura do Recife e Observatório do Recife. A ideia é trazer essa discussão para a realidade local e pensar a cidade do futuro. 

Aproximar as moradias das frentes de trabalho, comércio, serviço e lazer é o caminho que começa a ser desenhado em outras cidades. Em São Paulo, onde 20% dos empregos estão concentrados no Centro, o percentual de moradores é de apenas 3%. O urbanista Philip Yang, fundador do Instituto Urbem, desenvolveu o projeto Casa Paulista para a área central da capital e é um dos palestrantes do evento no Recife. O trabalho prevê a construção de 20 mil unidades habitacionais no centro expandido, ampliação das calçadas e das áreas de convivência. “Que espécie de cidade é aquela que você mora e não pode encontrar um amigo na rua?”, ressaltou Yang sobre a falta de espaços de convivência. 


No Recife não é muito diferente, inclusive em relação a distribuição dos empregos. Pelo menos dois terços da população se desloca para trabalhar no Centro e na Zona Sul, que correspondem a um terço do território da cidade. “É preciso reconectar os usos habitacionais nesses lugares e trazer a moradia de volta ao local. Mas, para isso, precisamos calibrar atividades econômicas respeitando as particularidades do lugar”, afirmou a presidente do Instituto da Cidade Pelópidas Silveira, Evelyne Labanca. Entre os projetos já em andamento para tornar a capital pernambucana mais verde e saudável ela cita o Parque Linear das Capivaras. “Esse projeto está sendo desenvolvido em parceria com a UFPE. A ideia é criar um caminho nos dois lados das margens do rio, onde as pessoas vão poder caminhar ou andar de bicicleta”, revelou. O parque terá 30,6 km de extensão, do bairro da Várzea até o Centro.

Em um trabalho de campo feito pela Cardus Estratégias Urbanas na região da Avenida Guararapes foi identificado que 19% dos imóveis estão vazios e 2,67% tem moradia. O restante é dividido entre comércio, serviço, lazer e igrejas. “Deixar essas áreas fechadas e degradadas é uma deseconomia. Nós temos um espaço com infraestrutura que não está sendo aproveitado”, ressaltou Vitória Andrade, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-PE). 

“Edifícios históricos devem ser preservados”

O urbanista Philip Yang é fundador do Instituto Urbem, responsável pelo projeto Casa Paulista, de São Paulo, que promete mudar o cenário urbano da cidade. Entre as propostas dele está a ampliação das calçadas e a construção de espaços de convivência. Ele vai estar no Recife para participar do evento Cidades Habitáveis, que será realizado no Centro de Artesanato de Pernambuco, na próxima terça-feira. 



O senhor teria alguma sugestão para melhorar a área que hoje é bem degradada?
Não conheço com profundidade as problemáticas específicas existentes na área central do Recife. Sei, no entanto, que podemos fazer alguns comparativos com outras cidades brasileiras de mesmo porte, que passam e passaram por processos de urbanização semelhantes ao do Recife. A falta de planejamento urbano gerou historicamente situações urbanas conflituosas de desequilíbrio espacial entre a oferta de postos de trabalho e a oferta de moradia. Também a falta de transporte público e de espaços públicos de qualidade e a baixa conectividade física são situações que dificultam a vida nos centros urbanos. 

O Centro do Recife ainda guarda uma arquitetura histórica, mas as edificações estão bastante ociosas. É possível mudar essa situação?
O Centro de Recife possui parte importante de nossa história narrada em sua arquitetura. Desta forma, primeiramente, todos os edifícios com importância histórica para a cidade devem ser preservados, pois são representativos do que somos como civilização e devem se articular através de seus usos como verdadeiros polos de atração da cidade, combinando diversos usos.

O Recife tem uma tradição de mascate com o comércio ambulante. É possível estabelecer um espaço de convivência com o ambulante sem degradar a cidade?
O comércio ambulante assim como as feiras urbanas podem ser contemplados desde que tenham espaços destinados a tais usos e com boa interação com o pedestre. Favoreço as atividades urbanas lícitas e bem regulamentadas que dão vida às calçadas. Cidade segura é aquela em que os pedestres ocupam as ruas em todos os horários. 

O Recife tem 2,4 mil vagas de Zona Azul a um custo de R$ 1,00. Essa política permissiva para o carro deveria ser banida total ou parcialmente?
Total. O custo social das vagas de rua é altíssimo. O permissivismo deveria dar lugar a políticas restritivas, que induzam a uma maior racionalidade no uso de carros. Evidentemente tal política deve vir acompanhada de melhorias dos transportes públicos. O Urbem advoga que as vagas nas ruas de São Paulo, incluindo as das Zonas Azuis, sejam suprimidas para que possam oferecer espaço para o alargamento das calçadas e passeios públicos, de modo a que possam abrigar mais verde, ciclovias e espaços públicos para o pedestre.


Fonte: DP/Fotos: 1-Bernardo Dantas, Outras, reprodução

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